00:00:52 Lenda de Vila Velha |
Itacueretaba, antigo nome do que conhecemos hoje por Vila Velha, significa aproximadamente "A Cidade extinta de pedra". Localizada à margem direita do rio Tibagi (o rio do pouso) na vasta e ondulada ibeteba (planície) que Saint-Hilaire, maravilhado, disse ser o paraíso do Brasil. Este recanto tinha sido escolhido pelos primitivos habitantes para ser o abaretama (terra dos homens), onde escolhiam o Itaimmareru, o precioso tesouro. Tendo a proteção de Tupã, era cuidadosamente vigiado por uma legião de Apiabas (varões), que eram escolhidos entre os homens de todas as tribos, treinados para desempenhar a honrosa missão. Os Apiabas tinham todas as regalias e distinções e desfrutavam de uma vida régia. Era-lhes, porém, vedado o contato com as mulheres, mesmo que fossem de suas próprias tribos. A tradição dizia que as mulheres, estando de posse do segredo Abaretema, o revelariam aos quatro ventos e, chegada a notícia aos ouvidos do inimigo de seu povo, estes tomariam o tesouro para si. Tupã, o oniponente, deixaria de resguardar o seu povo e lançaria sobre eles as maiores desgraças, se o tesouro fosse perdido. Os Apiabas eram fortes, ativos e bravos. O seu único trabalho consistia em realizar jardins na terra daquelas planícies. Tupã não permitia que naquele recanto sagrado, houvesse o pecado. Numa certa época, Dhui (em nossa língua corresponde a Luís) fora escolhido para chefe supremo dos Apiabas. Como todos os outros, tinha sido preparado, desde a mais tenra idade, para essa sagrada missão. Dhui, entretanto, não desejava seguir aquele destino, celibatário. Seu sangue achava-se perturbado pelo feminil fascínio (era um cunharapixara - mulherengo). As tribos rivais ao terem conhecimento da notíicia, de pronto resolveram aproveitar-se da situação e escolheram entre uma de suas donzelas a que deveria ir tratar o jovem guerreiro e tomar-lhe o coração para arrebatar-lhe o segredo. A escolhida foi Aracê Poranga (Aurora Bonita). Não lhe foi difícil conseguir a atenção do ardoroso Dhui e, pouco a pouco, ia entrelaçando a sua habilidosa teia, de tal modo que ele ficou completamente apaixonado e subjugado a seus pés. Ela já havia entrado no Abaretama com o consentimento de Dhui, que não teve como resistir-lhe ao desejo, pois Aracê era mulher e Dhui homem. Aracê traiu seus parentes em nome do amor, como Dhui traiu sua missão em nome de Aracê. Numa tarde primaveril, quando aos Ipês (árvores de casca) já florecidos deixavam cair sua flores douradas numa chuva de ouro, Aracê, veio ao encontro de Dhui trazendo uma taça de Uirucuri, o licor de butiás, para embebedá-lo; mas o amor já dominava sua razão e ela também tomou o licor e ficaram à sombra do Ipê, langüidamente entrelaçados. Tupã vingou-se desencadeando um terremoto que abalou a planície. A fúria divina convulsionou-se dentro do solo e a região foi destruída, trazendo morte e dor. A Abaretama completamente destruída tornou-se de pedra, o tesouro aurífero fundiu-se e liquidificou-se, e os dois amantes castigados ficaram um ao lado do outro petrificados. Ao seu lado ficou a causa de sua desgraça, a taça de pedra... E, quando ali se passa ainda pode se ouvir ao vento a última frase de Aracê: -Xê pocê ô quê (dormirei contigo). A terra se fendeu: são as grutas que encontramos próximas à Vila Velha e o tesouro fundido é aquela lagoa que chamamos Lagoa Dourada, a qual, quando o sol lhe bate em cheio, ainda reflete o brilho aurífero. Dhui e Aracê, equivalente indígena de Adão e Eva, estão ainda hoje lado a lado circundados de Ipês descendentes daqueles que assistiram à morte dos dois. E os sobreviventes daquele povo partiram para outras terras onde a maldição de Tupã não os alcançasse. Fundaram um outro império, nessas terras imensas da América do Sul.
Secretaria de Estado do Turismo do Paraná - SETU |
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